domingo, 8 de agosto de 2021

A Rede é Social Assim como o Quadro Negro é Verde


Hoje vou contar um pouco sobre como tenho me desenvolvido até aqui e como mais uma vez me vejo enganada e surpreendida com as façanhas da vida. Pode parecer um texto um pouco desconexo, mas tem o seu sentido.

Vamos começar dizendo que sempre fui uma criança recatada no sentido de que anulei boa parte da minha experiência infantil do que é esperado de uma criança na tentativa de cumprir tudo aquilo que me disseram que era o certo, eu não parava para pensar sobre o que diziam, apenas queria seguir o que era o certo para poder quem sabe, me sentir parte, me sentir aceita e principalmente amada. Conforme fui crescendo fui constatando algumas coisas que me frustraram muito, primeiro os adultos não tinham razão sobre tudo, segundo a maioria deles não seguiam aquilo que ensinavam, terceiro eu havia me sujeitado a uma vida até aquele momento em função do discurso alheio o que me acarretou uma série de sentimentos negativos que foram recalcados ao longo desses anos e agora com mais um plus de revolta e indignação. 

Diante da minha frustração escolhi me afastar das pessoas com as quais morava e moro até hoje e fui percebendo cedo demais que se eu não corresse atrás daquilo que eu queria ninguém mais iria, e no meio desse processo comecei a ter diversas experiências que foram cada vez mais me fazendo abrir os olhos sobre a realidade, porque até então havia (e talvez ainda haja) uma utopia de que todos seguissem todos os bons costumes que pregavam, que as boas ações fossem além do discurso, mas infelizmente a cada venda que era tirada eu via o quão injusto o mundo tem sido ao longo da história e ainda hoje, passam-se anos, gerações e a humanidade persiste em cometer os mesmos erros de maneiras diferentes, e com isso a revolta dentro de mim ia sendo alimentada. Acho que meu senso de justiça ficou mais aflorado quando me deparei com uma "vida" ou pelo menos a minha vida até aquele momento (adolescência) onde houve um esforço para cumprir todos os protocolos e a recompensa não veio e não só não veio como eu percebia que terceiros que não fizeram nada disso tinham tudo o que eu gostaria de ter, vi isso dentro da minha casa, foi e ainda é doloroso pra mim pensar sobre isso. 

Com tudo isso fui criando um olhar muito pessimista sobre a realidade, ao mesmo tempo, em muitos momentos me senti desamparada por aqueles que eu desde muito cedo procurei agradar e esperava que estivessem ali para me dar o apoio que todos encontram na família, como disse antes eu havia me afastado da mesma forma que eu havia me sujeitado antes a agradar os outros, perceba eu é quem me colocava nos papéis e esperava que o outro fizesse o que eu achava ser a parte dele, eu esperava que eles viessem atrás de mim e se reaproximassem, mas isso estava inconsciente, na minha consciência só constava a revolta e a desaprovação do que eu tinha constatado. Isso me fez trilhar um caminho muito solitário e até então eu me sentia muito sozinha e carente de afeto familiar, e talvez você também se sinta sozinho as vezes, incompreendido, sem um porto seguro. O problema em si nem são os problemas que se encontra no mundo lá fora, mas talvez seja chegar em casa e não ter pra quem contar, ter alguém que te ouça, que te ajude a pensar, ou mesmo que te de um abraço e diga que está lá pra você se quiser apenas, chorar. Mas em contrapartida também pude conhecer pessoas fora de casa que me proporcionaram esse sentimento de pertencimento, que me estenderam a mão e me ensinaram que nem sempre o socorro vem da onde a gente espera.

Pode parecer que eu moro com um bando de insensíveis, mas não é verdade, afinal estou retratando as coisas da minha perspectiva e apenas da minha, e pra uma história ser completa é preciso considerar as perspectivas de todos, porque em uma história mal contada, inocente vira vilão. Nesse ponto preciso reconhecer minha falha também de não dar abertura para diálogo, talvez assim eu soubesse as motivações deles de não cumprirem minhas expectativas e talvez pudesse compartilhar com vocês, mas não é bem esse o objetivo deste texto, convenhamos que isso já está quase virando uma autobiografia, mas já vou chegar no "x"da questão.

Com tudo isso eu apenas queria mostrar um pouco do meu processo de solidão, e apesar de hoje parecer que nas redes sociais o mundo está todo conectado, me parece que é apenas uma maquiagem para esconder justamente o oposto que é a nossa realidade, como se a internet tivesse se tornado um mundo paralelo que é tão feliz que estamos viciados, e é de fato uma droga que só estimula aquilo que ajuda a nos adoecer mais e mais, a internet promove muita insatisfação pessoal, porque agora você não só se compara com o seu vizinho, mas agora você pode se comparar com as grandes celebridades e com gente que era comum e hoje é uma sensação no Tik Tok, a internet faz parecer que pra você ter relevância você precisa se destacar, ganhar dinheiro com a sua notoriedade e consumir, e parece até que esse é o segredo da felicidade, mas acho que é bem o oposto se pensarmos que na internet o tempo passa bem, mas bem mais rápido e o que ontem era tendência hoje já está ultrapassado e os criadores de conteúdo tem que se reinventar a cada instante, ou será que não? Porque se você acompanhar os Reels do Instagram ou mesmo os vídeos de Tik Tok, pode perceber que tem milhares de vídeos com  o mesmo conteúdo, alguém lança uma trend e todo o resto copia, e nós consumimos todos como se fosse novidade até que seja lançada uma nova trend, não vejo problema no entretenimento da internet, mas percebe, que hoje a sociedade valoriza muito mais quem produz entretenimento do que quem realmente contribui para a coletividade e para questões mais urgentes da sociedade? Talvez o novo dinheiro não seja mais o espécime, mas as curtidas e seguidores, ao final das últimas edições de Big Brother Brasil e até das Olimpíadas, alguns sites de notícia ou influencers divulgaram quantos seguidores cada participante do reality e jogos ganharam ou perderam nas Redes Sociais. Até a mídia tradicional precisou migrar e se adaptar aos novos meios de comunicação. 

Mas se agora todos tem acesso à todos na palma da mão, porque nos sentimos tão solitários e insatisfeitos? Bem vou contar um segredo pra vocês, meus caros, tudo isso que nos contam, divulgam como felicidade e buscamos incessantemente é uma grande mentira, é só mais uma mentira de adulto daquelas que eu ouvia quando era criança e que quando cresci vi que nada daquilo era como era, estamos passando pela mesma situação, mas agora já somos adultos, então vamos pensar de acordo, já passou da hora de deixar de acreditar nesses contos de fada, Platão nunca esteve tão atual com o mito da caverna. 

Vamos falar de economia, que foi nos últimos tempos, tema de maior desespero para a maioria dos magnatas e até para a base, quando esta foi ameaçada por um vírus que se espalhou pelo mundo inteiro, afinal porque a economia é tão importante? Ela nada mais é que o maior filho do capitalismo, fruto do sistema, e sem ela o sistema não gira, não segue seu curso, não deveria ser novidade pra ninguém que o capitalismo produz uma tara pelo consumismo desenfreado e isso acarreta exploração exacerbada de matérias primas e portanto da natureza, no capitalismo tudo é motivo para consumo, e isso caminha a passos largos para um colapso no sistema, mas não o capitalista, mas o biológico mesmo, do qual todos nós fazemos parte. É como um suicídio em massa, primeiro estamos matando a alma e em seguida o corpo, nossa existência.

 Veja, não precisamos de grandes mansões, carros do ano, celulares com a câmera mais nítida, ou mesmo fazer procedimentos estéticos, para sermos felizes, na verdade a felicidade genuína se encontra em coisas muito mais simples, perceba que existe algo em nós que temos alimentado muito pouco, mas que verdadeiramente nos leva ao caminho da felicidade que é a união, o senso de coletividade, a empatia, a igualdade, não precisamos competir uns com os outros, pois talvez a maior vitória seja ter a oportunidade de ajudar outra pessoa, somos um sistema, uma rede onde todos estão conectados e não digo agora virtualmente, seria engraçado se não fosse trágico que as redes sociais mais nos desconectam do que conectam quando estas mais produzem competitividade, sobretudo se pensarmos que existe uma conexão muito mais genuína no contato real entre as pessoas.

Se a gente parar para pensar um pouco sobre a Pandemia, ela tem seu lado reflexivo, ela nos mostrou que as Redes Sociais não bastam e que precisamos valorizar muito mais as oportunidades de contato físico, os encontros, as risadas, as conversas, os abraços, os apertos de mão, os beijinhos no rosto; A experiência é muito melhor quando vivida do que assistida, lembra quando nos shows as pessoas passaram a se preocupar mais em filmar o evento do que propriamente viver ele? Pois bem, na pandemia houveram muitos eventos online por meio de lives, e podemos concordar que o presencial é muito melhor; Na hora do vamos ver quem realmente se mostrou importante para toda a humanidade foram os profissionais da saúde, os pesquisadores, então eles é que deveriam ter maior reconhecimento, sobretudo no Brasil que tende a valorizar mais celebridades (claro que todo artista tem o seu valor por seu talento e habilidade, mas existem outros meios de contribuição humana que devem ter seu devido reconhecimento), muitas pessoas prestaram lindas homenagens aos profissionais de saúde, mas além de homenagear seria de bom tom que o Estado investisse muito mais verbas para as pesquisas, para as faculdades, para os professores, para a educação, para a saúde, dando melhores condições de trabalho para áreas tão importantes como essas.

Se a gente estivesse seguindo mesmo o caminho certo nosso índice de transtornos ansiosos e depressivos não estariam tão altos nessa geração, nossos antepassados também passaram por maus bocados, mas veja, apesar de tudo tinham mais qualidade das experiências, conviviam muito mais como comunidade e menos como indivíduo, hoje parece o contrário, apesar dos lindos discursos que publicamos a torta e à direita nas Redes Sociais, estamos cada vez mais individualistas e isso vai na contramão da essência humana, estamos tristes porque estamos retrocedendo acreditando que estamos progredindo, o único progresso nisso é para o adoecimento em massa.

Não precisamos competir, somos todos iguais e diferentes, precisamos das mesmas coisas, todos têm a capacidade de contribuir de alguma forma e toda forma de contribuição é válida, poderíamos estar usando nossos talentos para que todos se beneficiassem, mas geralmente ajudamos uma minoria a ficar cada vez mais rica enquanto outros ficam cada vez mais miseráveis, esse é o verdadeiro mau das sociedades atuais, é a uma doença que vem se espalhando desde que a Europa decidiu colonizar outras terras, muitas culturas foram demonizadas nesse processo, muitos modos de se organizar que eram muito  mais condizentes com a nossa natureza real enquanto ser foram desaparecendo. A verdadeira selvageria é esta, o egoísmo de querer tudo para si enquanto seu irmão padece na esquina, as tribos antigas e as poucas que ainda resistem são, de fato, muito mais civilizadas. Quando finalmente entendermos que sem o outro não somos nós mesmos e que sem nós o outro não é ele, talvez possamos caminhar verdadeiramente para um estado de felicidade mutua, pois estamos todos ligados, uns com os outros, com os animais, com as plantas, o sistema natural entra em colapso na ausência de um integrante, a parte influencia o todo e o todo influencia a parte, e a Gestalt vai nos dizer que "O todo é maior do que a soma das partes que o constituem" no sentido de que as notas de um piano isoladas (partes) mesmo juntas não fazem o todo, é preciso uma harmonia entre as partes para que haja uma bela música a que se possa apreciar (todo). Eis aqui a sua importância e eis aqui a importância do outro, isso é sobre todos nós, isso é sobre a importância daqueles que refletem a podridão da sociedade a qual se esforça para invisibilizar, mas não deveria ser normal ver pessoas dormindo nas ruas enquanto outros tem camas Queen e King e acharmos isso normal, mas como o medo é a melhor forma de controle de massa, somos movidos pelo constante medo de estar no lugar do morador de rua e nos esforçamos ao máximo para ficar cada vez mais longe da base, mas sem base todo o resto desmorona. 

Nunca estamos sozinhos, porque estamos todos conectados, só precisamos nos lembrar disso.

Lembrando que qualquer coisa que você quiser, acrescentar, contrapor ou mesmo discordar totalmente, sinta-se à vontade, os comentários estão a favor disso!

Referências, indicações e inspirações:

Documentário:  I Am - Você tem o poder de mudar o mundo (Netflix - 2011).

Documentário: O Dilema das Redes (Netflix - 2020).

Filme: O Poço (Netflix - 2019).

Filme: Clube de Gênios: https://www.youtube.com/watch?v=7SWXA8HolCU (é só copiar o link e colar na barra de pesquisa do Google que já será direcionado(a) ao filme).

Um comentário:

  1. Como sempre, texto extremamente maravilhoso. Para iniciar uma semana com outro olhar. Vc me motiva senhorita!

    ResponderExcluir